Os métodos de ensino nas faculdades de odontologia são variados, pois os currículos são definidos por instituições responsáveis pela organização e fiscalização dos programas, a fim de manter a qualidade do ensino e do trabalho que mais tarde será oferecido para uma população. Porém, em cada país as instituições exigem requisitos diferentes das instituições de ensino. No Brasil, temos o Ministério da Educação, nos Estados Unidos, temos a CODA (Commission on Dental Accreditation), que mantém a ordem nas escolas de odontologia. 

Enquanto estudante na Boston University School of Dental Medicine (BU), pude notar algumas diferenças e curiosidades quando comparada à Universidade de Brasília (UnB), onde também tive o privilégio de estudar. 

Inicialmente, a duração dos programas é diferente. O programa para dentistas internacionais na BU tem duração de dois anos, enquanto na UnB, cinco anos. Ambos períodos integrais. Mesmo considerando o curso regular para dentistas americanos, o curso no Brasil é mais extenso, pois na BU tem a duração de quatro anos. 

Uma diferença óbvia é que as aulas, as provas, o atendimento aos pacientes, as atividades do dia-a-dia são em inglês. À exceção de quando existem professores, pacientes ou outros estudantes brasileiros por perto. Caso contrário, tudo será em inglês. Por isso, o aluno que decide estudar numa escola americana precisa dominar a língua inglesa. 

Outra diferença que observei entre as escolas é que as aulas teóricas são mais focadas na parte médica e farmacológica nas escolas dos Estados Unidos. Na BU, matérias relacionadas à medicina como General Medicine and Dental Correlations (GMDC) e farmacologia são levadas a sério e serão muito importantes na clínica, pois os pacientes usam muito mais medicamentos que no Brasil. 

Ainda sobre as aulas teóricas, comparadas às oferecidas pela UnB, as mesmas são mais curtas, com duração média de uma 1h50min e intervalos de 15 minutos. A grade horária varia de mês para mês, e às vezes de semana para semana, sempre mantendo os estudantes bastante ocupados do início ao fim do programa. As aulas na BU são todas filmadas e gravadas, e os slides são disponibilizados numa plataforma, onde os alunos têm livre acesso durante todo o programa. Esse método é fundamental, pois diferentemente das aulas que tive no Brasil, não temos muito tempo durante a aula para anotações devido ao volume de material apresentado. Enquanto no Brasil temos tempo de estudar pelos livros, o que é um ponto positivo na minha opinião, nos programas dos Estados Unidos esse hábito é menos comum. Por isso, os slides são numerosos e densos, e complementados por artigos científicos, a fim de abranger todo o conteúdo necessário para a nossa formação.  

Já as aulas práticas, assim como no Brasil, são realizadas em laboratório de simulação, os chamados Simulation Learning Center (SLC). São laboratórios com equipamentos que simulam os atendimentos na clínica. Câmeras intrabucais e as máquinas CEREC também estão à disposição no laboratório. Durante as aulas, o professor demonstra o procedimento a ser realizado no dia. Como na BU as turmas são formadas por muitos alunos, os procedimentos são projetados em telas coletivas e em telas individuais para cada aluno, além de serem gravadas e disponibilizadas na mesma plataforma das aulas teóricas. Os materiais oferecidos pela faculdade são de excelente qualidade e em grande abundância, o que é uma realidade diferente da maioria das universidades do Brasil. Sob o meu ponto de vista, isso não é necessariamente um ponto negativo para os alunos brasileiros, pois aprendemos a ser mais econômicos e criativos, e treinados para trabalhar em qualquer lugar. 

Na BU temos uma infinidade de provas, teóricas e práticas. Temos muitos exercícios que valem nota. Praticamente todas as provas teóricas são feitas num centro de testes, onde cada aluno leva o seu computador e responde às questões, que na maior parte são de múltipla escolha. Toda prova na BU, assim como o TOEFL, o NBDE e o GRE, tem um cronômetro na tela. Caso a prova seja realizada em outro local, sem a supervisão do instrutor, todo o processo é monitorado e gravado. Nas provas práticas, realizadas no laboratório e na clínica, o tempo também é controlado. Enfim, essa é uma diferença que não somos muito familiarizados no Brasil e que aqui é muito comum. 

Por fim, percebi que o programa é estruturado para preparar os alunos para passarem no NBDE parte 2 – não exigido pela BU no processo de inscrição – e nas provas do The Commission on Dental Compentency Assessments (CDCA), instituição que aplica as avaliações teóricas e práticas para a obtenção da licença odontológica nos Estados Unidos. Enquanto alunos internacionais, quanto antes nos adaptarmos, melhor e mais leve será o desafio numa escola de odontologia dos Estados Unidos. 

Dra. Flavia Velasque, DMD pela Boston University 2020

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