Existem diversas formas para estudar ou trabalhar nos Estados Unidos. Eu escolhi revalidar o meu diploma brasileiro numa universidade americana. Para isso, é necessário obter muitas informações, de preferência de uma fonte confiável, a fim de escolher a melhor forma para atingir o objetivo almejado.
Desde muito jovem eu já tinha vontade de morar num país que me oferecesse melhor qualidade de vida. Eu não tinha certeza para qual país eu me mudaria, mas a certeza de que um dia isso aconteceria. Decidi pelo meu objetivo de vida muito cedo, mas precisei aguardar o melhor momento para iniciar o processo.
Sou dentista, graduada pela UnB, odontopediatra pela ABO-DF e ortodontista pela UFG. Trabalhei por mais de 18 anos no Brasil antes de me mudar para os Estados Unidos. Durante o meu processo, contei com a ajuda de diversos amigos (não vou citar os nomes porque é muita gente!), inclusive do Dr. Leonardo Koerich, que havia passado pelo mesmo processo recentemente naquela época.
Durante os 18+ anos de carreira no Brasil, tive a oportunidade de trabalhar em diversos locais como na Marinha do Brasil, em clínicas privadas, no Governo do Distrito Federal – onde eu era concursada – e, por fim, nos últimos dois anos, na minha própria clínica. Posso dizer com convicção que obtive muito sucesso e reconhecimento profissional enquanto dentista em Brasília. Eu estava satisfeita como dentista, porém não realizada. A zona de conforto me incomodava todos os dias. Além disso, eu sempre escutava aquela voz interior constantemente dizendo que eu estava no lugar errado, e que uma hora eu iria me mudar para outro país.
O meu processo de validação de diploma não foi tão rápido como o de algumas pessoas. Mesmo com a ajuda de vários que já haviam passado pelo mesmo processo, eu sabia que a caminhada seria única e individual. Eu sabia que eu teria que correr atrás do meu objetivo e enfrentar cada obstáculo que apareceria. Por isso, planejei passo-a-passo durante anos.
A minha primeira ideia foi fazer um fellowship. Depois, entendi que o mesmo não me daria garantia alguma de permanecer nos Estados Unidos a longo prazo. Então, amadureci melhor as ideias conversando com as pessoas que já haviam validado o diploma nos Estados Unidos, e entendi que o caminho mais adequado seria mais árduo, porém, mais sólido. Foi por isso que resolvi revalidar o diploma para obter o título como clínico geral e não como ortodontista ou odontopediatra. Assim, eu teria maiores chances de ser aceita numa escola dos Estados Unidos, além de mais opções para trabalhar como dentista na quase totalidade dos estados americanos.
Iniciei o processo me preparando para o TOEFL, que fiz várias vezes até obter uma nota que eu considerava adequada para aplicar para uma boa escola de odontologia. O TOEFL tem validade de 2 anos. Então, às vezes eu precisei refazer a prova porque a validade tinha expirado. Nunca obtive mais que 98 pontos no TOEFL. E, contrariamente ao que muitos afirmam, sou a prova de que nem sempre é necessário obter no mínimo 100 pontos no TOEFL para ser aceito numa escola recomendada.
Entre as tentativas do TOEFL, comecei a estudar para o NBDE parte 1. Esse desafio não foi fácil, pois, para quem está familiarizado com as questões da prova, o candidato precisa ter conhecimento sobre bioquímica, anatomia de partes do corpo que não estudamos nas escolas de odontologia do Brasil, e outros conhecimentos básicos. Na época eu já estava formada há quase 15 anos. O material de estudo era em outra língua, a qual eu ainda não dominava bem. Então, desenvolvi os meus próprios métodos de estudo. Estudava em português e depois estudava o material recomendado para a prova em inglês. Estudava mais nos finais de semana e nos feriados porque eu trabalhava bastante durante a semana. Enfim, após aproximadamente 10 meses, viajei para fazer a prova do NBDE parte 1 e passei na primeira tentativa.
Passar no NBDE parte 1 me motivou bastante. Comecei a ver uma luz no fim do túnel. Então, comecei a me preparar para o NBDE parte 2. Durante o preparo para o NBDE parte 2 me senti obrigada a criar mais horários livres na minha agenda para me dedicar aos estudos, pois estava sobrecarregada nos empregos. Foi quando precisei decidir entre a clínica particular e o emprego público. Pedi licença sem vencimento por dois anos no hospital onde eu trabalhava, mas, não foi concedida. Então, pedi exoneração do cargo público para poder me dedicar aos estudos. É certo que eu não tinha certeza se um dia eu iria ser aceita numa escola, mas precisei arriscar. Continuei a trabalhar na clínica particular, sem poder compartilhar com os meus pacientes as minhas metas, pois não sabia se um dia iriam se concretizar. Isso, sem dúvida me angustiava, mas eu não tinha outra opção.
A aprovação no NBDE parte 1 já me permitia aplicar para algumas universidades, mas não para todas. Eu também não tinha o Green Card; portanto, as minhas opções ficavam ainda mais restritas. Então, decidi aplicar para cinco escolas. Enquanto eu aplicava para as escolas, eu me preparava para o NBDE parte 2. Estudei para o NBDE parte 2 durante uns 8 meses, e passei na primeira tentativa. Achei o NBDE parte 2 uma prova mais fácil porque a matéria é mais clínica. Além disso, naquela época eu já dominava mais a língua inglesa e estava mais familiarizada com o estilo da prova. Dois meses antes de fazer a prova do NBDE parte 2, fui convidada pela Boston University of Dental Medicine, a BU, para uma entrevista. Viajei até Boston, fui entrevistada e, no dia seguinte, recebi a carta de aceite. Fiz o NBDE parte 2 e também passei na primeira tentativa.
A partir daí o planejamento para a mudança começou. Como eu não era recém-formada quando decidi por esse caminho, precisei levar em consideração muitas variáveis. Afinal, vamos criando vínculos à medida que avançamos na vida. Precisei coordenar família, amigos, recursos, documentos, consultório e, principalmente, os queridos pacientes que eu tratei com tanta dedicação por anos – eu já era a dentista da família de muitos. Outro ponto importante foi me acostumar com ideia de não trabalhar por tempo indeterminado com as especialidades que eu havia escolhido seguir, pois, quando revalidamos o diploma sem ser pela pós-graduação, recebemos o título de clínico geral e, o que menos fazemos na escola durante o programa é odontopediatria e ortodontia.
Mudei-me para os Estados Unidos duas semanas antes do programa para dentistas internacionais, o Advanced Standing Program, iniciar. Não tenho familiares nos Estados Unidos e me mudei sozinha para cursar o programa com duração de dois anos na BU. Durante o programa, obviamente encontrei e superei muitos desafios. Desafios relacionados ao programa em si, e em relação ao novo país e sua cultura. Concluí o programa com muito sucesso este ano, aprendi muita odontologia, mas, muito mais sobre como ser uma pessoa mais tolerante, paciente e preparada para a vida.
Sou muito agradecida a todos que me inspiraram a escolher e a seguir este caminho, aos que me ajudaram e apoiaram nessa aventura (ou loucura como muitos repetiam diversas vezes), e aos que não acreditaram que um dia eu poderia chegar aonde eu cheguei.
Gostaria de deixar a mensagem que na vida as grandes conquistas nunca são fáceis. Que a determinação e o foco são a chave do sucesso. Que sem a ajuda de outras pessoas, dificilmente chegaremos aonde queremos chegar. E que, seguir o coração parece às vezes arriscado, mas acredito que é a bússola mais precisa que temos até hoje.
Espero ter inspirado de alguma forma os que almejam seguir este caminho da revalidação do diploma nos Estados Unidos. É importante lembrar que muitos brasileiros já revalidaram o diploma nos Estados Unidos; porém, cada um traçará um caminho único e diferente, mas todos somos capazes de chegar no mesmo lugar.
Flavia G. Velasque Gama
Graduada pela UnB (Universidade de Brasília) – 1999
Pós-graduada em Odontopediatria pela ABO-DF – 2002
Pós-graduada em Ortodontia pela UFG (Universidade Federal de Goiás) – 2007
DMD pela Boston University – 2020
Prêmio OKU pela Boston University