Parte I – A decisão: motivação(ões), fator determinante, estratégia.
O que lhe fez querer ir morar nos EUA?
Em primeiro lugar, sempre fui ávida por conhecimento, aprendizado, cultura, curiosidades, etc. Sempre amei viajar, aprender novas línguas, a História de outros países. Exatamente por isso, sempre pensei que conhecia (e ainda conheço) muito pouco das riquezas que o mundo tem a oferecer.
Não venho de família rica, por isso na minha infância e adolescência, viagens ao exterior sempre foram eventos bem pontuais. Em 2006, aos 22 anos, recém-formada em Odontologia pela USP, tive meu primeiro embarque internacional sozinha. Por 16 semanas circulei pela América do Norte para aperfeiçoar o Inglês. Na volta, estava morrendo de saudades do Brasil, da família, dos amigos, do clima, da comida, etc. Mas algo me dizia que eu deveria voltar um dia a morar fora, para muito mais.
Comecei a trabalhar, fiz atualizações, especialização em Ortodontia, voltei à USP para Mestrado e Doutorado. Atuei em consultório, docência, cursos, entre diversos outros projetos, que acabaram tirando o foco daquele antigo sonho. Todas as vezes que pesquisava sobre exercer a Odontologia fora, o processo parecia sempre difícil, longo e caro. Algo completamente fora do meu alcance. Em meio a tantas obrigações e atribuições, acabei acreditando que nunca realizaria aquele desejo.
Ao mesmo tempo, fui adquirindo independência financeira e passando a viajar para o exterior cada vez mais, por motivos profissionais e pessoais. De 2011 em diante, passei a participar anualmente do congresso americano de Ortodontia, promovido pela American Association of Orthodontics (AAO), que ocorre em diferentes cidades dos Estados Unidos, no início de maio. Coincidentemente ou não, passei a comemorar meu aniversário (08/05) todos os anos na terra do Tio Sam. Ao voltar para casa, aquela mesma voz interna sempre me dizia: “e seu antigo sonho, vai abandonar?”. A sensação pode ser descrita como um misto de frustração e conformismo. Não faltavam justificativas (desculpas) para o fato de, mesmo tendo alcançado tanto na carreira, ela não ter sido capaz de me dar algo que eu queria tanto.
Vez por outra, ouvi histórias de colegas dentistas que se mudaram para os Estados Unidos, exercendo a profissão. Assistia vídeos, lia blogs (entre eles, Ortodontia 360º), conversava com as pessoas, sempre farejando as informações. Lembro da sensação de ver aquelas pessoas como seres simplesmente extraordinários. Seriam eles gênios, inteligentíssimos? Ou simplesmente privilegiados? Como será que ele/ela fez? Com certeza alguém muito influente ajudou… Pena que eu não tenho ninguém para me impulsionar neste sentido… Coitadinha de mim (quem nunca?) …
O que foi determinante para você decidir seguir este caminho?
A boa notícia é que existe também o outro lado da moeda. Ao longo dos anos, os desafios que enfrentamos, sejam eles bem-sucedidos ou não, vão nos ensinando diversas lições e nos transformando em pessoas diferentes. De uma hora para outra me flagrei com muito mais maturidade, serenidade, força interna, autoconfiança, entre outras grandes aquisições. E… wait a minute! Agora vejo que aqueles mesmos seres “extraordinários” não tem nada a mais nem a menos do que eu. São pessoas que tiveram um sonho, e que (diferente de mim) perseveraram e o conquistaram – em vez de se acomodarem e desistirem, como eu estava fazendo!
Como aquelas pessoas (que cá entre nós não têm nada de extraordinárias, e são na verdade semelhantes a mim) conseguiram conquistar esse sonho e eu não? Justo eu que me sentia tão vencedora, com tantos títulos, ganhando dinheiro, etc… Estava na verdade trabalhando feito doida, acumulando rugas e incubando uma bela frustração. De fato, tinha e ainda tenho muito orgulho daquelas conquistas acumuladas até então. Mas passei a querer mais. Havia tomado gosto pelas causas “difíceis e/ou impossíveis”. Acho que passei a enxergar que somos muito mais capazes do que imaginamos. Na verdade, não temos nem ideia do tamanho da nossa capacidade.
O grande turning point
Em 2017 me casei, e felizmente meu marido também partilhava do mesmo desejo. By the way: não acredito em coincidências… Historicamente, sempre conversamos sobre o mundo, sobre planos futuros, sobre quantas oportunidades existem perto e longe de todos nós, e que muitas vezes nem enxergamos. Já em um contexto familiar, idealizávamos sobre o ambiente no qual gostaríamos que nossos filhos crescessem. Sobre as oportunidades de educação e cultura que gostaríamos de oferecer a eles. Assim como a nós mesmos (por que não?).
Em plena lua-de-mel, no melhor espírito “mission acomplished/next”, perguntei a ele se um dia iríamos de fato realizar aquele sonho comum. Ou se deveríamos lacrá-lo em uma caixinha de memórias, enfeitada com uma fita dourada, e lembrar dele apenas com o mesmo carinho que devemos a todos os planos audaciosos de nossa versão jovem. Mas que neste caso, nunca mais pensássemos nele como algo que não tivemos coragem e atitude suficiente para buscar. E sim como um caminho que conscientemente optamos por não seguir, em comparação à nossa vida no Brasil. Em outras palavras: “Ou vamos ou esquecemos este assunto. E chega de frustrações!”
A decisão de fazer pelo menos uma experiência de seis meses a um ano aconteceu ali. Não havia dúvida de que ambos tínhamos excelentes carreiras pela frente no Brasil. Mas precisávamos satisfazer aquele sonho, nem que fosse pela satisfação pessoal. Sempre cientes e considerando a possibilidade de retornar ao Brasil, caso em dado momento julgássemos melhor. Retornaríamos às nossas vidas, mesmo que para isso fosse necessário recomeçar do zero no trabalho.
Não sabíamos ainda para onde iríamos. Opções não faltavam. Com cidadania italiana, qualquer país da União Européia era viável. Havia também opções bastante promissoras e immigrant-friendly, como Austrália e o bom e velho Canadá. Mas o que fazia palpitar o coração eram os Estados Unidos. Na época não entendíamos o motivo, mas hoje enxergo muito bem. De todos os destinos, aquele era o que mais combinava com nosso estilo e nossos objetivos de vida. Mantendo nossa tradição histórica do “se for fácil, não tem graça”, traçamos EUA como nosso plano A, para executar a revalidação ou validação do diploma de Odontologia.
Como procedeu? Qual o plano, a estratégia, os passos para a sua mudança?
Esse será um assunto para nosso próximo encontro aqui no blog… Vejo você em breve!!
Graduação Odontologia USP 2006
Especialização em Ortodontia Prev Odonto (2009)
Mestrado em Ortodontia USP – Bauru (2013)
Doutorado em Ortodontia USP – Baure (2016)
Especialização em Ortodontia MedStar Washington Hospital Center (Graduação em 2022)